INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS

Museu Victor Meirelles

Conversa com a artista Ana Elisa Dias Baptista

“ciranda”
exposição de Ana Elisa Dias Baptista
28 de fevereiro de 2007

anaelisa1No dia 28 de fevereiro de 2007, o Museu Victor Meirelles promove a abertura da exposição “ciranda”, da artista Ana Elisa Dias Baptista. São 34 gravuras em metal, trabalhos que integram duas séries: Gabinete das Maravilhas e Perinde ac cadáver, morte vermelha. Enquanto a primeira série referencia o colecionismo do oitocento, a segunda apresenta sensíveis reflexões sobre a morte.

A artista explica que a idéia do Gabinete de Maravilhas a acompanha desde que começou a desenhar os insetos, enquanto as gravuras da série Insecta foram pensadas para o tipo de apresentação especifico que apresenta no Museu Victor Meirelles, utilizando gavetas como suporte.

O trabalho de Ana Elisa está intimamente relacionado com o lugar onde tem vivido nos últimos anos, uma chácara distante quarenta quilômetros da cidade de São Paulo. A artista apresenta imagens de pequenos animais, como porco-espinho, morcegos, pássaros e uma infinidade de insetos que, segundo ela, se apresentam como modelos, morrendo dentro de casa ou à vista. É a partir de 1998 que Ana Elisa começa a desenhar estes animais e insetos, maravilhada com o ritmo do pêlo, com o desenho das asas. Na seqüência passa a guardar seus modelos, enchendo gavetas de bichos e multiplicando os desenhos. A artista conta ainda que quando morreu um porco espinho, ela se propôs a acompanhar a decomposição, desenhando todos quanto participassem da ‘disposição’ da carcaça. Esta seqüência de insetos aparece em uma das belíssimas gravuras que participam desta mostra.

anaelisa2Deste contato com a morte, dos cachorros atropelados na estrada, passarinhos que batem no vidro da sala, a artista entende o desenho como uma forma de evitar a perda: “aprisionando no papel aqueles ou aquilo que, de outra forma, desaparecerá”. A artista, que afirma desenhar várias vezes a mesma imagem, tem no desenho a disciplina de trabalho. Ana Elisa vê a gravura como um elo neste processo, mas nunca uma etapa final. Em seu trabalho e depoimentos, a artista chama a atenção para o volume da linha gravada e as sutis diferenças entre esta e a linha desenhada.

anaelisa3

Abaixo, fragmento do texto “cai a garoa miúda”, em que a artista comenta seu processo e a relação de seu trabalho com a experiência na chácara e a proximidade de pequenas mortes:

“Já acordou com formigas entrando por baixo das paredes da casa pré-fabricada, subindo por elas na varanda para matar as aranhas em suas teias? Uma correição. Em outra noite acende-se a luz e ao lado do interruptor uma aranha armadeira. O medo vai diminuindo depois de uma delas passar por cima dos pés no chuveiro, depois o fascínio, em um dos meus primeiros cadernos de atelier de 1998 começam os insetos, maravilhada com o ritmo do pêlo e o desenho das asas, como antes Sibilla Merian, Hollar e tantos outros. Aí foi “porteira aberta”, por onde passa boi, passa boiada. As gavetas foram se enchendo de bichos e os desenhos em extrato de nogueira se multiplicando no meu gabinete de maravilhas. Coisas acontecem, bichos morrem. Na estrada cachorros são atropelados, na cozinha o cachorro pega a gata. O freezer cheio de passarinhos que batem no vidro da sala. A caveira da gatinha Lelé com fitinha preta segurando o maxilar, o crânio da cachorra Chameau, a ossada completa da pequena cachorrinha Água-raz. Apreendidos, aprisionados, desenhados, preservados. O que a gente não faz para que o coração pare de bater forte na hora de dormir, esse ensaio noturno de morte.”

A exposição poderá ser visitada até o dia 19 de abril de 2007 e contará com uma edição especial da revista eletrônica “um ponto e outro”, dedicada a Ana Elisa, que será lançada no dia da abertura, dia 28 de fevereiro de 2007.

Horário de visitação
Terça a sexta-feira das 13h às 18h

anaelisa4Sobre a artista:
Ana Elisa Dias Baptista possui formação em licenciatura em artes visuais pela FAAP. Vem realizando diversas mostras individuais e coletivas no país, como as recentes exposições “insecta”, no Studio Quinn Galeria de Arte, “prelúdios”, no espaço Graphias, “gravura contemporânea do brasil”, no Goloborotko´s Studio, em Nova York, XIII Bienal Internacional de Cervera, em Portugal e “Em imagens falamos”’, no ateliê Amsterdams Grafische, na Holanda. Desde 1987, participa de diversos grupos de gravura, salões e bienais, como o Salão de Arte Contemporânea de São Paulo, de Piracicaba, Americana, Ribeirão Preto, 1ª Bienal de Gravura de Santo André, 3ª Bienal de Santos e 2ª Trienal de Gravuras, em Chamálière, França, entre outros. Integrou a mostra “Investigações: a gravura brasileira”, trabalho de referência em gravura no país, realizado pelo Instituto Itaú Cultural.