INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS

Museu Victor Meirelles

Estudo para “Primeira Missa no Brasil” de Victor Meirelles

Prof. Drª. Terezinha Sueli Franz é doutora em Educação pela Universidad de Barcelona e mestre também em Educação pela Universidade Federal do Paraná. Em 2001 publicou o livro Educação para a compreensão da arte: Museu Victor Meirelles, pela editora Insular. Atualmente é professora do Departamento de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina.

Estudo para "Primeira Missa no Brasil", Victor Meirelles de Lima, circa 1859/1860, Paris, França, Grafite sobre papel, 27,4 x 43,2 cm
Estudo para “Primeira Missa no Brasil”, Victor Meirelles de Lima

O “Estudo” aqui apresentado foi produzido em Paris, entre os anos de 1859 – 1860 em meio aos numerosos esboços realizados por Victor Meirelles na etapa preparatória de sua pintura histórica a “Primeira Missa no Brasil” (1860) quando se encontrava na Europa, em Viagem de Estudos. Como pensionista do Estado e aluno da Academia Imperial de Belas Artes, do RJ, tinha obrigação de enviar para sua escola, no Brasil, como provas de seu aprimoramento, os trabalhos que ia realizando na Europa. Entre estes envios seguiam, principalmente: “estudos”, “esboços de obras originais” e, também, cópias de obras expostas em museus europeus.

Embora realizado com tamanha habilidade técnica, o estudo aqui apresentado não era considerado, na época, uma obra autônoma. O desenho é, neste caso, como diz o título desta obra, um “estudo”, entre tantos outros que antecederam a pintura histórica a “Primeira Missa no Brasil”.
Vale lembrar que as Academias de Arte do século XIX valorizavam o desenho de modo especial. A “arte de bem contornar”, o domínio dos efeitos de luz e sombra e o conhecimento do claro-escuro eram largamente enfatizados nos programas de ensino nas Academias de Arte. Os estudantes desenvolviam as habilidades requeridas no domínio do desenho através de exercícios de cópias (de estampas, do natural, de gesso, das obras dos mestres). As “artes da imitação” eram legítimos exercícios acadêmicos. O desenho era considerado uma etapa anterior e obrigatória para chegar a uma boa pintura. Podia ser o foco principal dos três anos iniciais da formação do artista e motivo para ser admitido oficialmente na Imperial Academia, prova de “dom” artístico que, então, se acreditava ser natural, que já nasce pronto e sem o qual ninguém seria um bom artista.

Para desenvolver uma compreensão mais complexa do fenômeno artístico aqui apresentado, muitas perguntas terão que ser respondidas. Podemos começar reconstruindo o caminho seguido pelo artista. Os pintores de história eram pesquisadores atentos. As suas fontes de investigação, no entanto, diferiam muito das atuais. Quais teriam sido elas? Até que ponto é possível hoje, em outras fontes (internet, livros, vídeos, filmes) saber sobre a cultura (costumes, indumentária, valores, etc.) dos navegadores portugueses da época do “descobrimento”? Que outros estudos o artista realizou para sua missa? É certo que os conceitos de arte mudaram muito no decorrer do tempo. O que entendemos como arte, hoje, não serve para avaliar, criticar, julgar, enfim, para compreender as obras produzidas pelos artistas formados pelas Academias de Arte do século XIX. Então, que conceitos norteavam o ensino acadêmico? Quais as principais mudanças que aconteceram no que diz respeito ao papel do desenho, da originalidade, da cópia e da criatividade, nos principais movimentos artísticos posteriores? Apenas olhar (contemplar, observar, apreciar) o desenho não basta. Precisamos pesquisar e trabalhar muito para responder a estas e às outras perguntas que certamente irão surgir na busca de uma compreensão coerente do fenômeno artístico aqui apresentado.