As pinturas de Camila Luciana Knabben Barbosa
O espaço de discussão da pintura há muito expandiu seus limites e refez seus contornos, sem estabilizar na morte prematura que lhe foi anunciada no século passado. Das produções pioneiras da pintura fora da tela, sobra um espaço já estabelecido de referências para serem desenvolvidos novos agenciamentos, o que implica dizer que não vale mais para um artista, hoje, apenas estabelecer uma situação pictórica em chave aberta com o entorno. Apresenta-se a demanda para que essa produção avance para além das pesquisas seminais.
É nesse espaço estrito que se inscreve a produção de Camila Barbosa. Há alguns anos a artista desenvolve experiências com a cor em suportes e situações em que o entorno é convocado. Tanto em suas primeiras estruturas espaciais de 2001, onde criava situações precárias para a imersão do espectador, como nas estruturas de plástico transparente com que ocupava silenciosamente as salas expositivas, Luciana Knabben desenvolveu um repertório específico de interesses, no qual é possível pressentir os fios de uma obra em curso. Nos trabalhos atuais, Camila formula com maior acuidade seu problema, ao aproximar suas estruturas de cor do plano da parede. Nessa direção de achatamento dos materiais, a tensão de seu trabalho aumenta e sua pintura ganha potência. Mesmo sem ter seu índice referencial encoberto, o material utilizado se desloca e comparece como cor de modo efetivo. E alusões à aquarela nesse momento são quase inevitáveis, pois é dessa modalidade de pintura que estamos falando aqui. E de como essas aquarelas acontecem na parede, de como o seu branco sobe à superfície das cores sobrepostas por sucessivas camadas de fitas e outros materiais. E assim por diante.
As pinturas com fitas e tecidos de Camila Luciana Knabben Barbosa se apresentam como aventuras da cor no espaço, parecendo celebrar conosco uma alegria muito particular: da consciência do acontecimento e da graça de partilhar o que é delicado, fugidio e indispensável.
Fernando Lindote