A pintura não morreu, os limites atribuídos a ela é que pereceram. Na arte atual, categorizar é quase sempre cair em terreno movediço. Mas essa insegurança sob os pés, somada à possibilidade de imersão involuntária, às vezes pode ser estimulante ao olhar.
Flávia Duzzo desenha pinturas ou pinta desenhos. Quem pode afirmar? Nossa necessidade de separar as coisas nas gavetas da segmentação, quando questionada, torna-se um incômodo e ao mesmo tempo um desafio, um território a ser descoberto. O desconhecido em seus trabalhos permite pensar que, se a linha define o desenho, a composição define a pintura. Sobram incertezas, faltam entregavetas.
Em suas quase pinturas (ou quase desenhos), os movimentos circulares, espontâneos ou estimulados, criam unidades que se multiplicam em progressão geométrica. Na unidade, o desenho, no coletivo, a pintura. Na insignificância, o ser, na dominação, a existência.
Fragilidade e contaminação. Limitação versus infinito. É sempre curioso esse exercício de enxergar o que não se vê! Que nadas tão cheios de tudos! Flávia Duzzo nos convida a embarcar nesta viagem por um universo sequer sugerido, no tempo e no espaço. Vai quem quer. Volta quem consegue.
Charles Narloch