INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS

Museu Victor Meirelles

Franklin Cascaes: Lado B por Fernando Lindote

Lado B

Esta pequena seleção de desenhos de Franklin Cascaes partiu da observação de um procedimento recorrente em sua produção: o hábito de desenhar no verso da imagem acabada. Antes ou depois do desenho principal, Cascaes realizava anotações, exercícios ou devaneios até certo ponto distantes do que se institucionalizou como sua obra.

Por conseqüência desse procedimento, a catalogação de seu trabalho acompanhou essa hierarquia de lados A e B.

No lado A encontramos o Cascaes convencional, de uma leitura que partiu da opinião do próprio artista, sendo ratificada pelos leitores subseqüentes; com suas narrativas de bruxas, demônios, seres marinhos, enfim, inúmeros personagens de seu conhecido bestiário.

Para o lado B ficaram as dúvidas, as especulações e as invenções inesperadas. E o esquecimento.

Foi algo desse lado B de Cascaes que escolhemos para este momento no Museu Victor Meirelles.

Mas como também não nos interessa a simples aplicação de um método, ampliamos a noção de lado B para alguns desenhos oficiais. Portanto, comparecem desenhos de um lado e de outro, ampliando a vocação do que se entende por lado B: desenhos que desestabilizam as convenções em sua obra e também fragilizam a narrativa até então conhecida em favor de uma visão mais baseada no processo de construção do trabalho.

Parece haver entre os desenhos escolhidos uma atmosfera de premonição do desastre, da iminente perda de referenciais. Pode haver algo do desespero que antecede a transformação, onde comparece o medo, mas também a força do desconhecido.

Em seu lado B, Cascaes parece antever o ocaso de um universo idealizado, não obstante, apesar da angústia que revela face ao inominado, se respire uma atmosfera prenhe de potência.

Fernando Lindote