Museu completa 50 anos
por Anderson Loureiro
Publicado no Jornal A Notícia em 15.11.2002
Uma casa feita de história e de arte. Muitos personagens históricos, muitos artistas, muitos homens que fizeram de sua época e de seu trabalho verdadeiras obras edificadas em reconhecimento e respeito às futuras gerações. Homens que cuidaram de preservar construções, objetos e fatos, para que as próximas gerações pudessem conhecer algo que, em suma, é parte da sua própria história.
Um homem viveu entre nós, florianopolitano da então Desterro, como nós, e deixou um legado artístico reconhecido por todo o País. Esse homem, além de tudo que colheu ainda em vida, teve também a felicidade de poder contar, muitos anos após a sua morte, com outros tantos personagens, hoje não menos históricos, que foram responsáveis, e ainda são, pela trajetória do museu que leva o seu nome: Victor Meirelles.
Com os olhos no futuro, sem desconsiderar o passado, alguns desses personagens cuidaram de preservar primeiro a casa, depois a obra e, a seguir, o encantamento que esse pintor já revelava ter, desde cedo, por sua terra natal. Rodrigo Melo Franco de Andrade, Pietro Maria Bardi e Oswaldo Teixeira são apenas alguns desses nomes, somados a outros que nos idos de 1952 pesquisaram, sonharam e se doaram. Outros, literalmente, doaram telas de Victor Meirelles, de sua propriedade, para integrarem o acervo do Museu Victor Meirelles, que seria criado.
Fazendo um mínimo de esforço reflexivo, podemos dizer que foi pensando em nós que aqueles homens decidiram, abnegadamente, por criar o Museu Victor Meirelles. E que a mesma sorte que teve Vítor, nós hoje temos por sermos herdeiros dessa realização.
Hoje, 15 de novembro de 2002, o Museu Victor Meirelles completa 50 anos de vida. E lendo os recortes do jornal “Diário de Notícias”, do Rio de Janeiro, de 13 de novembro de 1952, posso perceber a alegria que deve ter passado no coração de todos os que ajudaram no erguimento dessa casa-museu. Os que trouxeram seu conhecimento, os que ofereceram o seu prestígio, os que pintaram, limparam, varreram, os que iluminaram, enfim, os que se emocionaram com o primeiro abrir de portas. Pois não trata essas linhas de homenagem, mas sim de um tributo, um reconhecimento.
E se olhando os documentos, no arquivo, posso sentir a alegria das assinaturas que registram a compra da Casa Natal, que agradecem pelas obras doadas, que convidam para a inauguração, posso medir a responsabilidade de cada um de nós com o futuro da cultura neste País. Esse trabalho, antes de tudo, é uma ação de cidadania, de civismo, de amor e de fraternidade. Fraternidade para usar, sempre que preciso, uma frase muito conhecida no Iphan, para quando alguém diz que o instituto só se preocupa com coisas velhas. É assim: “nós não cuidamos das coisas do passado, e sim elegemos aquelas que farão parte do futuro”.
Por isso, ao agradecer, em nome do Museu Victor Meirelles, aos muitos Andrade e Bardi que por aqui passaram e aos que ainda passarão, ouso apertar um pouco meus olhos míopes e incrédulos para poder notar um velhinho de terno preto dentro de uma moldura, uns tantos pincéis na mão e um sorriso curto no canto do olho, dizendo baixinho: “Obrigado! A todos vocês. Lourdes, Lenas, Rutes, Letícias, Elisas, Célias, Catarinas, Anildos…
* Anderson Loureiro, assessor de comunicação do Museu Victor Meirelles, Florianópolis.