Sobre Mariana Palma
por Reginaldo Pereira
A artista Mariana Palma cria espaços e seres híbridos a partir do acúmulo (de tecidos, pele, osso, pêlos, insetos, criaturas marinhas, vegetais, detalhes de mobiliário, do ambiente, do objeto decorativo), e de toda variedade de coisas para a invenção das suas pinturas e seus desenhos.
No primeiro contato que tive com os desenhos aquarelados, eles me remetiam a estudos de esculturas para ocupar o espaço tridimensional; seja pela diversidade de materiais que sugere para criar um corpo, como o raciocínio escultórico que aplica na composição dos desenhos. Hoje percebo a autonomia desses desenhos como linguagem capaz de desempenhar no espaço vazio do papel toda a sua potência. Nesse processo o que é inanimado, aparentemente calmo e harmonioso desperta também a repulsa, o desajuste, a violência. A artista cuida para prevalecer a ambigüidade e a dúvida.
Observo com curiosidade na obra a referência de imagens/colagens do período Art Nouveau. Para traçar um possível paralelo, o estilo datado entre final do século XIX e início do XX, foi marcado pela transição do naturalismo para o abstracionismo. A rebuscada arte inspirada e copiada da natureza geraria objetos mistos e quase abstratos – algo muito novo para a época. Da mesma forma a obra de Mariana nos coloca hoje diante de alguns paradigmas do nosso tempo: os corpos híbridos; os transgênicos; as mutações das ciências biogenéticas; enfim como encarar o novo e as diferenças.
A artista propõe ao espectador um olhar muito além da superfície e nos convida em direção ao interior dramático e tenso da sua obra. Não tenho dúvida de que a consistência da sua produção aponte para a construção de uma obra singular.
Reginaldo Pereira é artista plástico; formado em arquitetura e urbanismo pela PUC Campinas