INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS

Museu Victor Meirelles

Luiz Rodolfo Annes – “Por Trás da Pele”

Na próxima quarta-feira, 25 de junho, o Museu Victor Meirelles promoverá a abertura da exposição Por trás da pele de Luiz Rodolfo Annes, composta por desenhos do artista e um trabalho em animação. Às 18h, antes da abertura, o artista irá conversar com o público sobre aspectos de seus trabalhos e de sua trajetória artística.

 

Sem Título, da Série "O Homem Permanecido", Luiz Rodolfo Annes, 2003, Curitiba/PR, nanquim sobre papel, 12,7 x 15,9 cm
Sem Título, da Série “O Homem Permanecido”, Luiz Rodolfo Annes
Sem Título [da Série "Mergulho"], Luiz Rodolfo Annes, 2006, Curitiba/PR, Nanquim sobre papel, 15,4 x 16,8 cm
Sem Título [da Série “Mergulho”], Luiz Rodolfo Annes
Sem Título, da Série "O Homem Permanecido", Luiz Rodolfo Annes, 2003, Curitiba/PR, nanquim sobre papel, 15,8 x 15,7 cm
Sem Título, da Série “O Homem Permanecido”, Luiz Rodolfo Annes

 

 

 

 

 

 

 

 

Por trás da pele.

Para amigos, uma canção da manhã, luminosidade, um corte de papel. O desenho é tímido. Noite escura saindo de uma garganta. O desenho verdadeiro ou falso? Linhas simples que falam dos fatos. Que tratam de uma mentira como objeto de preciosidade. Eu me dirijo ao corpo caído nesse momento de fogo, o dia que virá amanhã, esperança entre mãos trêmulas. Linhas vermelhas, como sangue, fazem uma figura estúpida parecer com espelho. Isso os assusta, às vezes. O desenho que se repete. Porque ele se lança ao mergulho nas paredes o outro escolhe devorar a paisagem. Gozando da dúvida do ser algo concreto ou simples imaginação perversa. Simples delírio. Simples divagar sobre as ondas que borbulham. Ele sente falta da máscara que o protege. Batatas assassinas, cachorros loucos, marcianos, homens nus. Ele enrola-se como que buscasse proteção. Caracóis de corpos melancólicos. A mão estende-se fria como a noite. Ele grita no abismo. Abraços apertados, loucos, carinhosos. Ele desvia o choro das cebolas. Ele desenha monstros saindo de corpos. Quero teus pés, quero teus olhos esperando por mim. Você nunca sabe o que é amar. Nada pode controlar esse líquido que escorre nem a mulher na janela, nem o vigilante mais atento a todos os detalhes da cena, nem a ambulância que corre, nem os que dizem saber da vida, nem os que constroem as paredes, nem os ternos e justos, nem os jogadores mais astutos, nem Jo Jo Dog, ninguém. Quando você ama com força ele se modifica. Vai ganhando um novo lugar para habitar com tranqüilidade. Silêncio. Ele se mostra dentro da máscara. Marcianos e cachorros em abraços apertados. Ele entre quatro paredes encontra a seiva, o líquido que o alimenta. Dentro da terra surge um tremor e ele se esvazia, erotizado se lança num gozo qualquer, o gozo que a lâmina fria enfraquece. Fria como a mão que se estende. Ele toca a face dela. Em sua nudez se aglomeram redenções. Fico a espera do milagre eterno, da força da virtude que não se alcança nesses movimentos vagos. Ele olha a pedra, o abismo, o céu púrpura, sua voz é negra como se leões se lançassem de  sua garganta, por trás da pele, segredos. Aqui um homem que não se revela, porém se entrega ao lance. Essas paredes são tão sólidas e tão falsas que desafiam sua carne. Ele se mastiga, se corrói e devolve a si próprio, ele se oferece ao outro, a Deus, ao delírio. Andando na noite aflita um deserto. Por trás da pele corações que aspiram ao alto. “Cheguei a um ponto em que não quero absolutamente ter certeza. Na praça do castelo escolho um belo pedaço de carne vermelha sem pele e me escondo com ele debaixo de um dos montes de terra; de qualquer maneira, ali há silêncio, na medida que ainda existe silêncio neste lugar.” Ele inocente muito diferente de antes. Muito mais exposto, sem aqueles cuidados exagerados. Sem erguer as muralhas de proteção. Esse é o perigo que ele vive a pele exposta e arrancada para entrega. O rosto que habitava esse espaço é o rosto de um homem morto, de um homem que busca o sensível grito da beleza, que escapa ao choro de cebola, que mergulha. Nesta manhã sem sol e sem nuvens tudo escorre e como vermelho vivo brota o sangue. Seu traço em círculos é íntimo, sombra voadora. “Lambo e mordisco a carne, penso alternadamente, ora no animal estranho, que ao longe percorre seu caminho, ora no fato de que deveria fruir o mais profusamente possível os meus viveres, enquanto ainda tenho a possibilidade de fazê-lo. Este é provavelmente o único plano realizável que possuo. De resto procuro decifrar os desígnios do animal.” Ele se entrega a natureza. Batatas sorridentes em seu destino, marcianos mercenários distribuindo amor. Finding love. Now seems like the easy part.Just turn round the corner.You standing there. I felt the wind.Was pushing behind us there.It’s taking us someplace that darling we’ve never been.

 Luiz Rodolfo Annes com a participação de Kafka e Tindersticks.

 

SOBRE O ARTISTA

Luiz Rodolfo Annes é formado em pintura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná e pós-graduação de Fundamentos do Ensino da Arte na Faculdade de Artes do Paraná. Realizou várias exposições, entre elas: “Agoras as crianças lêem poesia, fazem sexo e fumam ópio”, Instituto Goethe, Curtiba, 2000; “Os Dragões não conhecem o Paraíso”, Centro Cultural, São Paulo, 2001; “Humores de batata”, livro de artista, Centro Cultural Solar do Barão, Curitiba, 2004; “Mergulho”, Bolsa produção para Artes Visuais, Museu de fotografia, Curitiba, PR, 2007.Participou coletivamente das exposições “Ulay Babait (Maybe at hoem) Pyramida Contemporany Art Center”, Haifa, Israel, “Exposição portátil amor: leve com você”, a[mostra], Museu Victor Meirelles, Florianópolis, 2007.

 

Visitações:

Exposição aberta de 25 de junho a 22 de agosto de 2008.

Horários:

Aberto de terça a sexta-feira, das 10h às 18h.
Sábados das 10h às 14h.

Informações:

(48) 3222-0692
museuvictormeirelles.museus.gov.br
mvm@museus.gov.br