INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS

Museu Victor Meirelles

Módulo 1. Dimensão Estética

Módulo 1. Dimensão Estética
De 17 de maio a 12 de agosto de 2017

Algumas características da arte de Victor Meirelles. O estudo permanente como processo de criação artística. Análise estética das obras de arte. O que o olhar dedicado pode nos revelar?


Você já parou para observar uma obra de Victor Meirelles?

Retrato de Victor Meirelles (1832-1903), A. Pelliciari, circa 1915, s/i, Reprodução fotográfica p&b com retoque à carvão sobre cartão, 58,5 x 48,1 cm
Retrato de Victor Meirelles (1832-1903), A. Pelliciari, circa 1915, Reprodução fotográfica com retoque à carvão sobre cartão

Ao longo de sua vida, Victor Meirelles produziu obras de arte muito diferentes, entre desenhos e pinturas, retratos e paisagens, de pequenos estudos a grandiosas pinturas históricas. Mas será que elas também apresentam algumas semelhanças entre si?

Victor Meirelles iniciou seus estudos artísticos em 1845, quando foi aluno do argentino Mariano Moreno, em Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis. Em 1847, matricula-se na Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Em 1853, Victor começa suas viagens para a Itália e, quatro anos depois, para a França, a fim de estudar com alguns dos grandes mestres da pintura da Europa. Victor só retorna ao Rio de Janeiro em 1861 sendo nomeado professor da mesma Academia por onde se formou.

Mesmo quando assume a tarefa de ensinar a arte que aprendeu a seus alunos, Victor não abandona os seus estudos. O processo de produção artística de Victor Meirelles e de muitos artistas daquele período exigia um estudo detalhado de tudo que estaria em suas obras de arte: as expressões dos personagens, a musculatura de cada corpo representado, os efeitos da luz e da sombra em cada forma pintada, a perfeita combinação de cores em pinceladas bastante sutis.

Essas características que percebemos nas obras de arte de Victor Meirelles poderiam indicar um estilo ou um movimento artístico específico? Costumamos dizer que Victor era um pintor acadêmico, neoclássico e também romântico, o que isso tudo quer dizer?


Que tal se iniciarmos nossa investigação sobre as semelhanças e as diferenças da produção artística de Victor Meirelles com essas duas obras de arte?

Vamos começar com a aquarela sobre papel intitulada “Vista parcial da cidade de Nossa Senhora do Desterro – atual Florianópolis”, a primeira obra de arte que Victor Meirelles produziu, quando tinha 14 anos e ainda morava na Ilha de Santa Catarina. Perceba os diferentes planos da imagem, há perspectiva? A composição está organizada horizontalmente ou verticalmente? A faixa de terra é maior ou menor que a quantidade de céu desenhado?

“Mulheres suliotas” é uma pintura do artista francês Ary Scheffer. Victor fez essa cópia baseada na obra de arte original, apenas para fins de estudo. Mas, então, o que Victor estava estudando? Afinal, quem eram as mulheres suliotas? Repare em cada figura pintada e em sua posição em relação às demais. Repare na expressão de seus rostos e na cena que é montada.

Deixamos uma última pergunta que você pode responder agora, no caderno de visitas, ou pelo perfil do Museu no Facebook: o que seria mais interessante, associar a produção de Victor Meirelles a um determinado estilo artístico, focalizando especialmente as semelhanças, ou fazer uma análise aprofundada de suas obras e perceber o que há de singular em cada momento de sua produção?


Mulheres suliotas
Victor Meirelles de Lima
circa 1856/1858
Paris, França
Óleo sobre tela

A cópia da pintura Les Femmes Suliotes / As Mulheres Suliotas (1827), de autoria do artista Ary Scheffer (1795-1858), foi um dos estudos realizados por Victor Meirelles em sua estadia na França (1956-1961). Realizar cópias era considerado fundamental para o aprendizado da pincelada, da resolução das cores e da composição geral do quadro, exercitando assim a “maneira” do artista copiado. A pintura promove no espectador certa perturbação com a cena de crianças e mulheres em situação de súplica e desespero evidentes, ainda mais por representar o suicídio de grupo que não vê saída frente ao cerco promovido pelas tropas turcas – episódio das lutas de resistência civil grega à dominação otomana no século XIX. Um primeiro plano iluminado com figuras em posições contorcidas, roupas em desalinho e fortes expressões corporais. No segundo plano, um amálgama de sombras que se confundem entre si e se acumulam maximizando o sentimento da cena. Mesmo sendo uma cópia, o quadro de Victor Meirelles é uma obra autônoma: certas escolhas técnicas de Victor, como a menor definição dos rostos e figuras, o tratamento da luz e a representação temática da resistência das mulheres gregas, revelam seu engajamento academicista com fortes tonalidades românticas.


Vista parcial da cidade de Nossa Senhora do Desterro – atual Florianópolis
Victor Meirelles de Lima
circa 1846
Florianópolis, SC
Aquarela, guache e grafite sobre papel colado em cartão

A obra de arte possui traços lineares, o que demonstra um conhecimento da forma e da matemática, provavelmente ensinados a Victor Meirelles pelo seu professor Mariano Moreno. No primeiro plano da aquarela é visível a topografia do local em que se observa uma vala, provavelmente usada para o escoamento da água, e trilhas formadas pela repetição de passos dos transeuntes. Percebe-se uma diferenciação de classes sociais pela representação das vestimentas dos transeuntes: enquanto os de classe elevada são figurados com mais detalhes e andam livremente pela paisagem, os de classe baixa são menos delineados e parecem estar seguindo pelas trilhas. O tamanho reduzido das pessoas na imagem faz com que o casario ao fundo se pareça muito maior, apesar de respeitarem o espaçamento preciso, enganando o olhar de uma perspectiva mais realista. A obra de arte não somente contém um caráter documental e histórico, como também fascinou o conselheiro da corte Jerônimo Coelho e serviu como o passaporte de Victor Meirelles para a Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro.


Treinando o olhar e a interpretação

Degolação de São João Batista, Victor Meirelles de Lima, circa 1855, Itália, Óleo sobre tela, 130,5 x 97,1 cm
Degolação de São João Batista, circa 1855, Itália, grafite sobre papel, 37,1 x 19,9 cm

A pintura é considerada a primeira obra de arte “autoral” de Victor Meirelles, pintada em Roma quando o artista estudava no ateliê de Nicola Consoni, como pensionista da Academia Imperial de Belas Artes. A obra é um dos exemplos dos chamados “envios”, prática corriqueira e necessária feita pelos alunos em pensionato – a qual servia, entre outros aspectos, para demonstração do avanço técnico do pensionista – e retrata a história bíblica da morte de São João Batista. Grande testemunho da influência do purismo italiano sobre Victor Meirelles, na análise de Jorge Coli, a Degolação de São João Batista (1855) nos fornece um belo exemplo da complexidade da pintura brasileira do século XIX em sua relação com as correntes e movimentos da arte européia do período. Ao chegar ao Brasil, a obra foi analisada pelo então professor de Victor Meirelles, Manuel de Araújo Porto-Alegre, cuja carta datada de 06 de agosto de 1855 pode ser lida em sua íntegra no suporte ao lado.

Você percebe os detalhes da musculatura do corpo do carrasco? E as dobras das vestimentas?

Veja o manto vermelho no chão da pintura. Qual seria sua utilidade e seu significado?

Você conhece os personagens da pintura e a história que está sendo retratada? Do que se trata o tema dessa pintura?

Repare na composição da pintura. Há diferentes planos de perspectiva? Como as figuras humanas estão organizadas? O ambiente é espaçoso e iluminado?

A expressão do rosto das personagens é importante nesta pintura? Repare na moça que recebe a cabeça na bandeja: ela estaria arrependida ou satisfeita com a entrega?

Perceba a iluminação e as sombras. De onde vem a luz? Há algum foco de atenção?

Atente para as cores e tons utilizados. O conjunto visual é harmônico?

A imagem pintada é próxima da realidade? Parece uma fotografia? Qual efeito que a pincelada sutil de Victor Meirelles quer provocar?

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