J. M. Correa
Os trabalhos de Renata de Andrade nos falam sobretudo sobre o olhar. Pedem-nos que aprendamos e saibamos rever, re-direcionar o nosso olhar para tudo aquilo que, de antemão, já não nos dispomos mais a dar atenção e sentido.
Usa como substrato, o lixo inorgânico. Não para reutilizá-lo em uma nova função (não entra aqui, ao menos como questão essencial, o reciclar).
Acima de tudo, vem para construir um novo pictórico ou sentido artístico.
Não só o substrato de seus trabalhos é de relevância, mas o “suporte” que “os sustenta” e a escolha dos “espaços” (públicos ora privados) que ela escolhe para exibi-los. Porque também estes, em muitas das vezes, são espaços também esquecidos e que pedem um “novo” olhar.
Aquilo que se vê, está posto para confundir aos que se deparam com o “encontrado”. A idéia de lixo é imediata, pela obviedade da escolha do material e do local, a ser fixado.
O estranhamento, o incômodo advém da necessidade que os trabalhos nos impõem. Como se nos “pedissem” uma atenção que, a priori, não lhes daríamos, caso não fôssemos “notificados” tratar-se de uma “obra de arte”.
O sentido primeiro portanto, aquilo que entendemos por “obra de arte”, é colocado.
A partir dai, inúmeras leituras são evocadas e enormes interrogações nos são propostas: o sentido da arte e todos os seus possíveis desdobramentos.
Antes de tudo, estamos diante de trabalhos que “nos incomodam”, que nos interrogam. E só isto, já encerra per si, enorme importância e beleza.
Frua-os com atenção!!