Revista Eletrônica um ponto e outro nº 05 – Renata de Andrade
Revista do programa de exposições do Museu Victor Meirelles
Atividades Educativas
A ação educativa foi pensada para este espaço expositivo, trabalhando com o recorte da obra de Renata de Andrade exposta no Museu Victor Meirelles, a partir de 20 de junho de 2007.
Renata de Andrade
São Paulo, 1960
Vive e trabalha em Amsterdam – Holanda
1. Biografia
Renata de Andrade freqüentou a Academia de Arte Rietveld, de 1992 a 1995, participou dos Estudos Didáticos para Artistas Visuais, em 1998 permanecendo um ano no mesmo, e ingressou na Universidade em Amsterdã no ano de 2000, onde cursou Multimeios, todos realizados na Holanda. A artista já realizou exposições individuais:na Holanda, em Rotterdam, no espaço Mirta Demare, em 2002 e 2007, uma série de instalações nas ruas de Amsterdã intitulada de street pieces – 2007; em Amsterdã na Gallery Inkijk e na Crossfire Perific Arts, nos anos de 2006 e 2000 respectivamente. E a exposição corrente no Brasil, em Florianópolis, no Museu Victor Meirelles – 2007. Realizou diversas exposições coletivas: no Brasil: MARP – Museu de Arte de Ribeirão Preto, MACCE – Museu de Arte Contemporânea do Ceará, Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo e MAL – Museu de Arte de Londrina; na Espanha na Art fair em Madrid; em Portugal na Galeria do Palácio/Biblioteca Municipal Almeida Garret na cidade do Porto e na Holanda: Raaminstallatie in De Baarsjes, Silo Gallery, Pulitzer Art Gallery, Atelier 408, Cokkie Snoei, Crossfire Perific Arts, Rai-complex, Arti et Amicitiae, Beurs van Berlage, Mirta Demare entre outros. Seus trabalhos integram acervos de diversos museus entre eles: Museu Victor Meirelles (Brasil), MARP – Museu de Arte de Ribeirão Preto (Brasil), MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo (Brasil), MACCE – Museu de Arte Contemporânea do Ceará (Brasil), Museum Jan Cunen (Holanda), Cokkie Snoei (Holanda) e Kie Ellens (Holanda).
Renata de Andrade é uma artista que dialoga com o mundo através dos vestígios de suas instalações e interferências urbanas, que nos entorpecem pela simplicidade de uma paisagem recheada de cotidiano, trazendo a beleza do ordinário.Com uma riqueza de detalhes impressionante, mergulhamos neste mundo fronteiriço entre a arte e a vida, somos aprisionados por ele. Renata de Andrade começa a introduzir objetos encontrados em sua pintura, para logo em seguida “pintar” com objetos, incorporando em suas instalações pictórico-escultóricas o seu rastro/resto de pintora.
Para saber mais, acesse: biografia e imagens de outros trabalhos
2. Diálogos
A partir da obra de Renata de Andrade quais as possibilidades de gerarmos temas a serem trabalhados em sala de aula? Para facilitar o desdobramento das ações propomos como temas iniciais os seguintes:
Materialidade – Que suportes e técnicas a artista utilizou? Que tipo de texturas as intervenções/instalações da artista sugerem? Como dialoga com a contemporaneidade o procedimento adotado pela artista de utilizar objetos encontrados em diversos materiais (plástico, isopor, madeira, cartolina, caixas, tapetes)? Que influências recebemos do lugar em que vivemos?
Processos de composição – De que maneira a combinação de materiais distintos podem sugerir interpretações diferenciadas a partir dos procedimentos que adotarmos com eles? De que maneira a composição adotada pela artista sugere outros cenários? Como a artista compõe elementos distintos, repetindo os mesmos elementos? Como a artista compõe a cor em seus trabalhos? É um elemento significativo? Como a artista compõe as diversas camadas de materiais que aparecem ao seu olhar cotidianamente? Conseguimos identificar estas camadas? De que maneira o procedimento poético da artista com materiais reciclados, dialoga com conceitos pictóricos, tais como: composição, cor, linha, forma, estrutura, e outros…
Lixo/vida – Quais as relações que eu (aluno) sou capaz de fazer com esta obra que acabo de observar? Consigo me identificar com o trabalho? Qual é a temática predominante na obra da artista? Consigo associar as imagens da obra com imagens existentes no mundo em que vivo? Como esta forma de registro através da fotografia, do graffiti está presente em nosso cotidiano e ao longo da história da arte?
Identidade/ subjetividade – Como me vejo representado a partir da escolha de materiais e procedimentos artísticos. Existe algo que pertença à identidade coletiva, do grupo? E identidade individual, há alguma parte do trabalho na qual você se identifica? Como a identidade da artista é trabalhada a partir do material encontrado por ela?
Inventividade/hibridismo – Como podemos traçar relações entre os trabalhos da artista e o que supomos ver? A artista denomina “instalações alheias”, lixos e demais objetos encontrados/abandonados em locais públicos ou privados, registrando-os por meio de fotografia. Juntando estas imagens, em alguns casos, a suas instalações reais. Pense na relação estabelecida entre o real (textura, volume, cheiro, cor) e a imagem deste real.
Dicionário – O titulo escolhido pela artista para nomear a exposição é “Grátis”. O que este título sugere? Associe os títulos propostos pela artista ao trabalho exposto. Que relações podemos tecer entre o título e o material utilizado pela artista?
Apropriação/Resignificação – Tendo como referência a obra de Renata de Andrade e as propostas de apropriação de imagens, materiais reciclados, objetos inseridos no contexto urbano, objetos dialogando com imagens de graffiti, trabalhando questões como duplo, máscara, material reciclado, lixo produzido, reutilizado, abandonado, apropriado. Pense ao longo da história da arte como foram sendo apresentadas estas questões, já que ambas, tanto a apropriação, quanto a utilização de materiais diversos são utilizadas no processo da artista, referenciando dentre muitos movimentos a Arte Póvera.
Objetos e Embalagens trouvé – Assim como o objet trouvé (objeto encontrado) de Lévi-Strauss, os objetos e embalagens encontrados pela artista e incorporados em suas instalações pictórico-escultóricas dialogam com a tradição duchampiana dos ready-mades, com o dadaísmo, na relação do conceito de arte, de anti-arte do próprio sistema de validação dos objetos considerados artísticos, seriam as “não obras de arte”, mas sim instalações e intervenções que seguiam a lógica do absurdo. Onde um objeto qualquer, despido de seu uso, alcança a condição de objeto de arte.Os objetos “ganham” valor pelo olhar do artista, e são expostos como obras de arte. Podemos pensar nas instalações de Renata de Andrade como uma junção dos dois, tanto o objeto encontrado é escolhido pelas suas funções estéticas, formas, cores, como é um ready-made industrialmente produzido, como tantos duplos como ele. A artista menciona em entrevista informal online, para os membros participantes da Revista Um Ponto e Outro, que seu processo de criação é intuitivo, o acaso faz parte deste processo, ocorre um encontro aleatório com estes objetos, deixando tênue o limiar entre arte e vida cotidiana, entre lixo e arte. Elevando a condição de obra de arte, seguindo as assemblages e as instalações de Kurt Schwitters, em sua Merzbau. Reflita sobre as instalações de Renata de Andrade sobre objeto artístico, conceito de instalação e espaço expositivo (público e privado).
Rastros da História – Merzbau de Kurt Schwitters.
[…]O dadaísta Kurt Schwitters, baseado em Hannover, cunhou a palavra Merzbau a partir dos termos alemães para comércio e construção. Ele a usava para se referir à gesamtkunstwerk, ou à “obra de arte total” que ele começara a construir em sua casa no início dos anos 1920. Expandindo-se constantemente até que o artista fugiu de seu país em 1937, essa colagem tridimensional cresceu de parede a parede e do chão ao teto, formando o que Schwitters chamava de “grutas” e “cavernas” até por fim ir empurrar o telhado. Ela cresceu também no sentido de incluir pinturas, assemblages, frascos de fluidos corporais e uma variedade de objetos encontrados. Quando [a artista alemã que fazia fotomontagens dadaístas (3)] Hannah Höch perdeu uma chave, ela foi parar na Merzbau. A Merzbau original de Schwitters foi destruída por bombas dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, mas seu espírito vive hoje em instalações enigmáticas que tiram o maior proveito de objetos do dia-a-dia.[…]
(trecho extraído de MONACHESI, J. Uma geração em busca de sua “Merzbau”. IN: http://www.canalcontemporaneo.art.br
3. Obra em ação – Pensando obras da exposição
Fazendo um recorte da obra de Renata de Andrade, escolhemos trabalhar com o processo criativo adotado pela mesma, que estará presente, em suas instalações e intervenções no museu Victor Meirelles, para sugerir algumas propostas a serem desenvolvidas pelo professor em sala de aula. Relacionando questões presentes na arte contemporânea, literatura e outras.
Construção Poética
• Cada criança ganha um pedaço de lã e reproduz no chão a rua onde
mora (linhas curvas, retas, curtas, longas, etc.). Estes segmentos de linha serão reunidos pelas extremidades, formando uma só linha.
• A professora lê a poesia:
“Quadrilha da Sujeira”
João joga um palitinho de sorvete na
rua de Teresa que joga uma latinha de
refrigerante na rua de Raimundo que
joga um saquinho plástico na rua de
Joaquim que joga uma garrafinha
velha na rua de Lili.
Lili joga um pedacinho de isopor na
rua de João que joga uma embalagenzinha
de não sei o que na rua de Teresa que
joga um lencinho de papel na rua de
Raimundo que joga uma tampinha de
refrigerante na rua de Joaquim que joga
um papelzinho de bala na rua de J. Pinto
Fernandes que ainda nem tinha
entrado na história.
Poema de Ricardo Azevedo (extraído do livro Você Diz que Sabe Muito, Borboleta Sabe Mais, publicado pela Fundação Cargill)
• Numa caixa com sucatas previamente reunidas pelo grupo, cada criança deverá escolher uma e nomeá-la colocando-a sobre sua “rua” ao sentar.
• É proposto um jogral parodiando a poesia, onde cada um falará seu nome, o nome do seu vizinho o nome da sua sucata, enquanto a deposita na “rua” do colega ao lado.
O jogral deverá proporcionar o movimento de ida e volta, até que todos fiquem novamente com a sucata que escolheram.
Numa outra etapa:
• A partir da poesia:
“Morada do Inventor”
A professora pedia e a gente levava,
Achando loucura ou monte de lixo:
latas vazias de bebidas, caixas de fósforo,
pedaços de papel de embrulho, fi tas,
brinquedos quebrados, xícaras sem asa,
recortes e bichos, pessoas, luas e estrelas,
revistas e jornais lidos, retalhos de tecidos,
rendas, linhas, penas de aves, cascas de ovo,
pedaços de madeira, de ferro ou de plástico.
Um dia, a professora deu a partida,
E transformamos, colamos e colorimos.
E surgiram bonecos esquisitos,
bichos de outros planetas, bruxas
e coisas malucas que Deus não inventou.
Tudo o que nascia ganhava nome, pais,
casa, amigos, parentes e país.
E nasceram histórias de rir ou de arrepiar!…
E a escola virou morada de inventor!
Poema de Elias José
• A professora propõe que a turma retome as sucatas escolhidas e construam coletivamente um objeto.
• Partindo do que foi construído, a turma poderá criar uma história ou até outra poesia.
Obs.: As duas poesias citadas acima foram retiradas da Revista Nova Escola Edição Especial / Contos para crianças e adolescentes vol. 1, e poderão ser acessadas pelo site http://revistaescola.abril.com.br/online/.
Neste espaço virtual o professor também terá outras idéias para o planejamento de suas aulas.
Qualquer coisa Combinada – Rauschenberg, artista norte-americano, inventou o termo “Combinados” para designar suas obras, que integram pintura com escultura. No processo de explorar formas artísticas, trabalhando com objetos, embalagens e instalação. Pedir aos alunos que tragam objetos, embalagens e demais sucatas, de seu lixo doméstico. Conversar sobre a idéia de construir unidades pela cor ou/e pela forma dos mesmos, agrupando em pequenas instalações móveis, processo semelhante ao de Renata de Andrade. Logo em seguida, com pincel e tinta guache bem aguada, colocar estes objetos numa superfície de papel e retirar a silhueta dos mesmos, passando a tinta ao redor do objeto, retirando-o logo em seguida. Observar a marca vazada deixada pela forma e interferir anexando um outro objeto, desenho ou pintura.
4. Chá das cinco
Traçando um paralelo entre a obra de Renata de Andrade e outros artistas, levando em consideração aproximações formais e/ou conceituais, sugerimos alguns nomes para possíveis diálogos. Selecionamos algumas questões que levaram-nos a esta aproximação, tais como: resignificação de materiais, objeto/cor, instalação, pintura/escultura, graffiti, acúmulo, silhueta, máscara e restos.
5. Para saber + …
Outras referências consultadas para a execução e pesquisa das atividades propostas, algumas são sugestões que levam em consideração o procedimento artístico trabalhado.
http://www.lixo.com.br/wsantana.htm
http://revistaescola.abril.com.br/online/ – edição especial de agosto de 2004 – Contos para Crianças e Adolescentes. Volume 1.