O Projeto Agenda Cultural do Museu Victor Meirelles realiza no dia 25 de agosto, às 16h, a palestra Estuário, com a artista e professora Sandra Correia Fávero, sobre o processo de criação de sua pesquisa de doutorado na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), sob a orientação de Cláudio Mubarac.
A fala abordará a vivência entre a paisagem da Praia da Daniela, em Florianópolis, e o ateliê com a gravura em metal, suas especificidades e possibilidades gráficas. O estar na paisagem de um estuário vivo e em constante movimento transformador aliado ao advento de um estuário fictício, que segue na busca de um contínuo formar, desafiando o elemento do metal, provocando reações e transformações que acontecem em sua materialidade. Esta foi a origem do livro de artista, um dos resultados da tese de doutorado e que também será apresentado durante a palestra.
Trechos
“Ponta da Daniela não é só uma ponta de praia, mas um estuário na Estação Ecológica de Carijós, onde encontramos o manguezal do rio Ratones, que ali desemboca no mar, ao norte da ilha de Santa Catarina.”
“Pisar ali sobre a areia não é, simplesmente, pisar sobre a areia, é sentir que a vida e a morte estão presentes naquela paisagem. Qualquer lugar onde pouso meu olhar, em qualquer ponto em que coloco meus pés, vem a impressão de estar machucando algum ser. Percebo o pulsar de vida nos pequenos buracos abertos no leito vazio, onde o lodo parece arfar e, embora quase seco, mantém seres minúsculos fortalecendo-se para enfrentarem a própria vida. No borbulhar do lodo, ouço estalidos, um misto de tons, de odores, de formas produzindo a sensação de plena integração. Para completar a descrição, aves e pequenos pássaros interagem ali, mas, com a minha aproximação, voam, e, com o voo deles, percebo a imensidão do espaço, o poder da luz do sol.
“Considerando todos os experimentos em ateliê, a gravura possibilita movimentos e transformações contínuos, proporcionando tanto um determinado descontrole para com os químicos, facilitando a interação ao uso, quanto um controle proposital que surge durante o processo de elaboração da matriz ou, ainda, de sua impressão. As tonalidades utilizadas nas impressões lembram as paisagens visitadas, a areia, o lodo, o verde da vegetação, o mar, a cor das algas, das cracas, das incrustações em tocos de madeira, em plásticos, a ferrugem em pedaços de latas, etc. Produzir relevos, experimentar texturas, recortes, formas e linhas sobre o papel aproximam-se das impressões percebidas na experiência vivida, nas formas orgânicas da natureza, dos objetos ali encontrados e suas marcas registradas no solo”.
Sobre a autora
Artista, professora e pesquisadora com doutorado em Poéticas Visuais pelo Programa de Pós-Graduação em Poéticas Visuais da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (2015), mestrado em Gestão do Design pelo Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina (2003) e graduação em Bacharelado – Pintura – pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (1979). Professora de gravura nos cursos de bacharelado e licenciatura em Artes Visuais, Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina, em Florianópolis (desde 1998). Também é curadora em projetos de gravura. Antes de estabelecer-se em Florianópolis (1987), orientou gravura em metal e litografia no Museu da Gravura Cidade de Curitiba, Solar do Barão, PR, e, no atelier de gravura da artista Uiara Bartira.
A tese encontra-se disponível em:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27159/tde-14072015-123727/pt-br.php
Fotos da palestra:
Palestra “Estuário”
com Sandra Fávero
25 de agosto de 2015, às 16 horas
Museu Victor Meirelles
Rua Victor Meirelles, 59 – Centro, Florianópolis/SC
Entrada franca
mvm.ac@museus.gov.br ou 48 3222-0692.