PAISAGENS IMAGINÁRIAS
DUM JARDINEIRO DOUDO
[ primeiros fragmentos de uma das partes do livro Alongamento ]
* – Cinco caules pontiagudos desalinhados no aguaceiro,
visíveis – bem vestidos de mobilidade úmida; um pássaro sem
par no alto grita, suado – secura na garganta * * * * * * * * * *
* * – na floresta de palmas baixas erguem-se as pernas gigan-
tes das palmeiras adultas saindo do ninho
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* * * – rastros negros de grandes pés de aves abertos no gra-
mado: onde se põem as canelas depenadas das palmeiras
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* * * * – palmas simples largadas na mais alta extremidade:
seguidas de longe por ouriços verdes que se agarram a meia al-
tura no tronco fino
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* * * * * – no caule alto da palmeira, imensa barata verde; nou-
tro, uma aranha de enormes pernas emaranhadas: talos novos,
brotos velhos ((sob as tiras penteadas e despenteadas)) como
espinhos peludos * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
* * * * * * – a velharia da palmeira roça o seu tronco murcho:
uns brincos secos e sonoros – as folhas velhas: lançadas: que não
caem * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
* * * * * * * – a vela afiada do laser entra na palmeira e sai sem
corte: perante a careca nua do morro: cabisbaixa: ensimesmadas
na água cheia * * * * * * * * * * *
* * * * * * * * – as palmas estraçalhadas se dirigem para o vidro
(da janela) sem tocá-lo: pausas no ar, os braços longos e duros,
deformados, são pacíficos e verdes; ou, secos e pálidos, o braço e
a palma caem como esqueleto de bruços * * * * * * * * * * * * * * * * * *
Sérgio Medeiros
é autor de Mais ou menos do que dois (2001) e Alongamento (2004).
Leciona literatura na Universidade Federal de Santa Catarina.