REPRESENTAÇÃO X RECRIAÇÃO
Artista de inegáveis méritos – pintor, cineasta – Gerson Tavares, sem favor algum, merece lugar de destaque na história da arte contemporânea brasileira. Ao longo de sua trajetória, soube compreender e superar os desafios surgidos diante de novos materiais, técnicas e procedimentos, novas formas e temáticas. Através de marcante personalidade, imprimiu, sempre, à sua produção artística – no cinema e na pintura – clara percepção do mundo que o rodeia, e é essa percepção que explica a recriação expressionista do espaço natural que o cerca, não o transformando em uma “paisagem” no sentido próprio do termo, mas, ao contrário, indicando com muita clareza e propriedade até, a potencial imensidão de toda a Natureza.
Espacial e temporalmente, Gerson vai longe em sua obra, concebida sempre, na forma de grandes planos ( estará aí o cineasta que foi?) que produzem excelente efeito de profundidade, sem que, no entanto, construa espaços em perspectiva central. E tudo com correta utilização da cor, fundamentalmente, qualidade e densidade e, como num filme, ela é, também, medida. Medida, sim, porquanto além dos valores anteriores, tem seus limites, sua amplitude, sua extensão, isto é, seu lado mensurável.
No entender do artista criador que é, a paisagem tem que refletir, de certo modo, um pouco de sua esfera pessoal, totalmente desprovida de ideologia e, também de apego sentimental, por traduzir-se em expressão de contemplação meditativa diante de uma existência viva que cresce, se expande, se desenvolve ao longo do tempo, com lenta e recatada paciência, independente das gentes e onde se não percebem, se não de leve, elementos tramáticos e dinâmicos.
A luz, a organização do espaço e, sobretudo, a forma da aquarela que nos chamam a atenção, fazendo com que deixemos de lado uma atmosfera específica, bem como um certo tipo de “naturalismo”.
Tudo isso torna as “paisagens fantásticas” de Gerson espiritualmente ligadas à existência da própria humanidade.
Alcídio Mafra de Souza
Visitações:
Exposição aberta de 05 de julho a 13 de agosto de 1995.
Horários:
Aberto de terça a sexta-feira, das 10h às 18h.
Sábados das 10h às 14h.
Informações:
(48) 3222-0692
museuvictormeirelles.museus.gov.br
mvm@museus.gov.br