Sérgio Bonson pertence ao grupo de artistas que deve parte do que sabe a Sílvio Pléticos, o pintor iugoslavo/brasileiro que na década de 70, poucos anos depois de radicar-se em Florianópolis, ensinou aos jovens de então que se iniciavam na arte, um pouco do muito que aprendeu nos anos de formação na Europa. A contribuição de Pléticos não deve ser esquecida, e menos ainda aqui, onde para quem passou pelas primeiras letras das artes permite-se a ilusão de que não há mais nada a aprender; basta expor e perseguir a glória municipal. Bonson desafina o coro dos contentes: está em permanente formação e expõe pouco, apenas o necessário para que os interessados acompanhem o seu trabalho.
Artista inquieto, estudioso e produtivo, ele transita pela gravura, a aquarela e, claro, pelo desenho, a base de todo trabalho gráfico. Sem o domínio do desenho seu livre trânsito por várias técnicas estaria comprometido, não passaria de uma aventura inconsequente. Bonson é antes de tudo um desenhista de cuja obra é bom falar. Mais conhecido por seu trabalho gráfico como cartunista, o artista paga o preço deste sucesso: suas aquarelas, belíssimas, são bem menos conhecidas, merecem maior divulgação, mas é bom não esquecermos que a obra jornalística de Bonson também deve ocupar o espaço nobre da galeria de arte.
Nunca é demais lembrar que Daumier, Gross e Posadas, entre outros, foram também “cartunistas”. (O caricaturista Álvarus, colecionador e conhecedor do assunto, diz que chamar caricatura de cartum no Brasil é um absurdo. Para ele o que os artistas gráficos que trabalham com humor usando pessoas reais e ressaltando-lhes os traços que gostariam de esconder, fazem caricaturas).
O sucesso como cartunista, merecido porque é trabalho gráfico de qualidade, considerado prejudicial (não pelo artista, mas por alguns dos que acompanham a sua obra) porque faz sombra ao aquarelista, ao gravador tem um “efeito colateral” positivo: disciplina o artista, obriga-o a desenhar, desenhar sempre.
Para um desenhista compulsivo como Bonson a obrigação diária de desenhar só aumenta um pouco mais esta saudável obsessão.
Para a exposição no Museu Victor Meirelles Bonson reuniu os desenhos que retratam o centro de Florianópolis. Com seus inseparáveis lápis e seu bloco de desenho o artista percorreu as ruas e registrou o que viu. Tudo o que ele desenhou nós vemos todos os dias, mas o artista vê um pouco além. E dá forma ao que vê. Por isso esta exposição tem alguma coisa a mais: Ela nos mostra a cidade dentro da cidade. Mesmo sem ter desejado Bonson pode estar dando a Florianópolis a sua personalidade gráfica, um pouco como fez Steinberg, cartunista e aquarelista como ele, com Nova Iorque.
Cleber Teixeira, maio/99
Visitações:
Exposição aberta de 16 de junho a 15 de agosto de 1999.
Horários:
Aberto de terça a sexta-feira, das 10h às 18h.
Sábados das 10h às 14h.
Informações:
(48) 3222-0692
museuvictormeirelles.museus.gov.br
mvm@museus.gov.br