Os desenhos da Série Canais do Aparelho Humano apelam para a fragilidade dos materiais (nanquim, cabelo, papel de arroz), para o lirismo visceral da forma (imagens orgânicas) e para a ressonância visual e literária do texto. É como se as tensões do espírito, no seu fluxo de desaguar, não comportasse apenas a criação da forma visual e necessitasse também do gesto gráfico, da palavra, para emergir.
É possível que o ‘corpus’ desse conjunto de desenhos, como matéria de arte e memória, possa propor ao leitor/observador um jogo iniciatório, em que este se veja revelado a partir das inflexões do artista, dos fragmentos e resíduos do seu “eu”: a infância, as perdas, as lembranças, os gestos, as dores, os amores, os vícios, as banalidades, os medos… – estados que desafiam a fragilidade e a obstinação de viver.
As pistas para essa iniciação, entre tantas, se encontram nas revelações sinalizadas: podemos percebê-las, por exemplo, na suspensão da figura, com suas linhas corpóreas, seus textos e falas impalpáveis, ocupando um pequeno espaço no vazio do suporte de papel; assim como podemos observá-las no não ‘emolduramento’ do desenho, preso precariamente à parede por alfinetes; ou, por outra, ainda podemos contemplá-las no seu silêncio, com as analogias ou metáforas que lhes são próprias.
As mitologias individuais de Rolim, sobretudo, exigem desaceleração – mesmo diante do que é transitório, virtual, ‘plugado’ no mundo globalizado – para que o outro, em seu espaço/tempo no mundo, possa se reconhecer na obra do artista.
Visitações:
Exposição aberta de 23 de abril a 22 de junho de 2003.
Horários:
Aberto de terça a sexta-feira, das 10h às 18h.
Sábados das 10h às 14h.
Informações:
(48) 3222-0692
museuvictormeirelles.museus.gov.br
mvm@museus.gov.br