INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS

Museu Victor Meirelles

Burle Marx – “Croquis”

O Museu Victor Meirelles abre nesta quarta-feira, dia 18, às 18h30min, a exposição Croquis, com trabalhos do paisagista Roberto Burle Marx. As obras fazem parte do acervo do Escritório Burle Marx & Cia Ltda, sediado no Rio de Janeiro.

Antes da abertura da exposição, às 17 horas, haverá uma palestra com o também paisagista Robério Dias, diretor do Sítio Burle Marx, uma chácara localizada no bairro de Mangaratiba, na cidade do Rio de Janeiro, doada por Burle Marx ao IPHAN em 1985 e que hoje é uma unidade do Instituto.

Burle Marx nasceu em São Paulo, a 4 de agosto de 1909, e residiu no Rio de Janeiro desde 1913, até a sua morte, em 1994. Entre os croquis desta exposição está o do projeto paisagístico realizado no aterro da Baía Sul da Cidade de Florianópolis e que hoje já não existe mais.

Um dos maiores paisagistas do nosso século, distinguido e premiado internacionalmente, Roberto Burle Marx foi um artista de múltiplas artes: desenhista, pintor, tapeceiro, ceramista, escultor, pesquisador, cantor e criador de jóias.

No texto de apresentação da exposição Croquis, o arquiteto e paisagista José Tabacow ressalta que “os croquis que compõem esta mostra não escapam à regra: apesar de tratar-se de estudos de composição para jardins, incluindo exigências funcionais e aspetos do mundo real como, por exemplo, as necessidades de circulação ou a consideração de usos específicos para um determinado local, podem tranqüilamente ser submetidos a um olhar despido de qualquer intenção interpretativa. Ou melhor, mesmo tendo nascido como forma de representação plana de objetos e de um espaço tridimensional, podem ser encarados dos pontos de vista acima mencionados. Esta é uma maneira de ver a sinergia que fluiu entre as manifestações de uma obra plural.”

"Mistélia 20/60", Roberto Burle Marx, 1986, São Paulo/SP, litografia sobre papel, 60,8 x 79,8 cm
“Mistélia 20/60”, Roberto Burle Marx

Situar, em poucas palavras, quem e como foi o artista Roberto Burle Marx é tentativa quase patética. Pode-se fazer um relato de sua realização, uma descrição de seu trabalho, mas não é possível dar uma noção, ainda que aproximada, do volume e diversidade de sua obra. Mais conhecido no Brasil por seu trabalho como paisagista, Burle Marx tornou-se um artista completo, ao buscar atuação em qualquer forma de expressão que as circunstâncias trouxessem a seu caminho – ou que ele próprio buscasse – produzindo arte nas mais variadas técnicas e meios conhecidos e chegando a inventar outros antes não utilizados, que de alguma forma lhe servissem ao propósito de se expressar.

Tendo iniciado sua carreira pela via do canto lírico, o então jovem barítono, em viagem pela Alemanha, descobre as plantas tropicais nas estufas do Jardim Botânico de Dahlem, Berlim. A profunda impressão causada pela beleza de uma flora desconhecida foi o pavimento do caminho que trilhou para se tornar um dos maiores paisagistas do século XX. Ao mesmo tempo, impressionou-se tão profundamente ao visitar uma exposição de Van Gogh, também em Berlim, que decidiu trocar o canto pela pintura.

Formou-se na Escola Nacional de Belas Artes, do Rio de Janeiro, na época, dirigida por Lúcio Costa, que havia livrado a instituição do academicismo imperante. Como colegas, no curso de arquitetura que também ali funcionava, formavam-se Oscar Niemeyer, os irmãos Milton e Marcelo Roberto, os arquitetos e urbanistas Ary Garcia Roza, Jorge Moreira, Carlos Leão. Este foi o ambiente em meio ao qual o irrequieto artista se desenvolveu.

Mais tarde, já consolidadas suas atividades como paisagista, ele segue pintando e freqüenta as aulas de Cândido Portinari, a quem ajuda na execução dos painéis do então Ministério da Educação e Saúde (hoje, Palácio da Cultura), no Rio de Janeiro. Encarrega-se também do desenho dos jardins, para aquele que foi o primeiro edifício público com arquitetura modernista no Brasil, projeto desenvolvido por Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Jorge Moreira, Carlos Leão e Ernani Vasconcellos a partir de um esboço inicial de Le Corbusier.

No ano seguinte faz outro trabalho marcante em sua trajetória, a praça Salgado Filho, em frente ao Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, recentemente restaurada de acordo com o desenho original. Por esta época, inicia uma fértil incursão no terreno do design de jóias, chegando a produzir mais de três mil projetos, executados por seu irmão, o joalheiro Haroldo Burle Marx.

Com o passar do tempo, a pluralidade de sua criação vai ganhando novas experiências, novos contornos. Realiza serigrafias, litografias, esculturas, gravuras em metal, desenhos a nanquim. Projeta luminárias, painéis em pedra, concreto, cerâmica. Desenha lustres, vasos, azulejos, faz arranjos florais, pinta tecidos. Esta inquietude, tão característica de sua personalidade, também se manifesta através das coleções que vai acumulando em seu sítio de Guaratiba, Rio de Janeiro, o Sítio Santo Antônio da Bica (Atualmente, Sítio Roberto Burle Marx, doado por seu fundador ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Ministério da Cultura): cerâmica popular do vale do Jequitinhonha, cristais nórdicos, imaginária barroca, pintura cuzquenha, arte popular do nordeste, conchas marinhas, cerâmica pré-colombiana, tudo envolvido por uma das mais expressivas coleções de plantas ornamentais vivas existentes, com destaque para representantes da flora brasileira, que ele coletou durante toda a vida.

Alguns críticos sublinham, com muita propriedade, o fato de Roberto Burle Marx saciar sua sede de produção artística com conhecimentos que ele foi acumulando ao longo de suas multivariadas realizações, umas se alimentando das outras, em trocas “simbióticas” que, mesmo se beneficiando de uma identidade formal comum, característica do seu criador, não só respeitavam as técnicas nas quais se expressavam, como, em suas peculiaridades intrínsecas, se estruturavam de forma clara, irrefutável e valorizada sempre em suas preocupações.

Os croquis que compõem esta mostra não escapam à regra: apesar de tratar-se de estudos de composição para jardins, incluindo exigências funcionais e aspetos do mundo real como, por exemplo, as necessidades de circulação ou a consideração de usos específicos para um determinado local, podem tranqüilamente ser submetidos a um olhar despido de qualquer intenção interpretativa. Ou melhor, mesmo tendo nascido como forma de representação plana de objetos e de um espaço tridimensional, podem ser encarados dos pontos de vista acima mencionados. Esta é uma maneira de ver a sinergia que fluiu entre as manifestações de uma obra plural.

Assim observados, estes desenhos vão revelar, sobretudo, um processo de trabalho. Mas trazem consigo, subjacentes, todas as atitudes e conceitos que fizeram de Roberto Burle Marx um artista singular. E embora sua natureza seja um permanente estímulo, ou melhor, uma tentação a um exame mais heurístico, na acepção histórica do termo, não há qualquer impedimento que recomende resistência a tal convite. Será certamente um exercício curioso a investigação de informações indiretas ou paralelas, neles ou em suas margens contidas.

Entretanto, a idéia desta mostra pretende, não excludentemente, uma homenagem maior à face abstracionista do autor, que a esta escola aderiu nos anos sessenta do século passado, para nela permanecer até sua morte, em 1994.

José Tabacow

 

Visitações:

Exposição aberta de 18 de agosto a 17 de outubro  de 2004.

Horários:

Aberto de terça a sexta-feira, das 10h às 18h.
Sábados das 10h às 14h.

Informações:

(48) 3222-0692
museuvictormeirelles.museus.gov.br
mvm@museus.gov.br

 

Burle Marx – Croquis