INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS

Museu Victor Meirelles

No horizonte

Para se aproximar do trabalho de Fabiana Wielewicki, mas não muito:
Imagem dentro de imagem mediada pela presença da autora das imagens. Baliza entre planos e diferentes realidades, o auto-retrato fica assim como observador, assumindo uma posição de neutralidade ou de casualidade, como se o acaso fosse o motor de toda a introspecção, como nas pinturas flamengas de interiores. Mas o abismo é plano. Não seria mais justo falar em teia? Assim como a fotografia é meio, mas não fim – como a pintura para Magritte. Uma imagem dentro da imagem como afirma André Chastel, nos faz pensar simultaneamente na idéia e na forma; uma proposição plena de alegorias, que, ao mesmo tempo em que aponta para o interior, reverbera o contexto, a vizinhança.

A questão da posição é uma constante nos trabalhos de Fabiana. As coisas vêm em planos que se justapõem, sobrepõem; são transpostos, contrapostos. Podemos resumir isso no fato de que ela freqüentemente se coloca em cena, e, portanto, define para si mesma uma posição no trabalho (ao espectador resta o abismo ou a circularidade). Essa atitude que a artista assume é por vezes mediadora, procurando religar conexões entre a experiência e o seu registro; outras vezes é de quebra apostando no desencontro. Cada escolha representa uma perda, pois o que nos é apresentado é a totalidade e sua impossibilidade. Esse jogo na forma de impasse é proposto ao expectador constantemente.

A tentativa de unir imagens distantes uma das outras é uma estratégia da colagem, portanto parceira da fissura e da fragmentação. A encenação dessas situações que traduzem impossibilidades pelo absurdo ou pela perda, gera imagens de melancolia, que é outra forma de traduzirmos as limitações de nossas escolhas. Impossibilidade de estarmos em todos os lugares, de escolhermos a simultaneidade versus o click do aparelho que resume e comprova a nossa insuficiência.

É bem provável que a conversa com a artista resuma essa aproximação a uma outra posição. Pois é freqüente nessa troca um deslocamento de perspectiva que procura nos colocar lá onde Fabiana se coloca. Mas isso faz parte do jogo, não é? Até a próxima conversa Fabiana.

Flávio Gonçalves, maio de 2007.
artista e professor do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul